Aborto: sim, não ou talvez ...
Aborto, uma questão que, ao longo dos anos, tem estado sempre a ser mal discutida. E, mais uma vez, levada a extremos desnecessários tanto por aqueles que “querem” a despenalização e irão votar SIM, como por aqueles que dizem “não querer” a despenalização e irão votar NÃO.
Existe contudo uma realidade incontornável, o aborto ilegal, que para além de, como já disse, psicologicamente já ser muito complicado para a mulher, esta ter de ir a “clínicas” clandestinas, sem condições sanitárias, correndo risco de vida, podendo ser julgadas e condenadas, ou recorrer a Espanha fazer um aborto em boas condições, pagar centenas largas de Euros. É hipocrisia. É humilhante.
Os custos não são apenas económicos, são sociais, legais.
Os defensores do NÃO, querem fazer passar a mensagem que a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, (“são três as circunstâncias em que é permitida a interrupção da gravidez: quando constitui o único meio de evitar perigo de morte ou de lesões irreversíveis para a saúde física ou psíquica da mulher grávida e desde que realizada nas primeiras 12 semanas; quando se sabe que o bebé pode vir a sofrer de doença incurável ou de uma malformação e for realizada nas primeiras 16 semanas; quando a gravidez resulta de violação, caso em que tem de ser realizada nas primeiras 12 semanas.
Estas situações têm de ser certificadas em atestado médico antes da intervenção, por médico diferente daquele por quem a interrupção é realizada. O consentimento tem de ser prestado em documento assinado pela mulher grávida e, sempre que possível, com três dias de antecedência relativamente à data da intervenção.” In Correio da Manhã) irá criar um efeito de banalização da questão por parte das mulheres e interessados, fazendo com que o aborto seja prática normal na sociedade.
Acredito que muitos dos que são a favor do NÃO felizmente nunca passaram por uma situação do género, muitos, permitam-me a especulação, acredito que mudariam de ideias caso tivessem tido uma experiência de gravidez indesejada. Afirmo isto porque segundo um estudo 8% dos abortos são feitos por pressão familiar. Mais, segundo o mesmo estudo sobre aborto, 78% das pessoas que passaram por esta situação escolheram o local para abortar através de pessoas amigas, este dado diz-nos muito da dimensão do problema. Parece que são muitos aqueles que conhecem locais onde se pratica o aborto.
Uma de duas conclusões a que chego é que, o referendo mostra que o poder político e a sociedade não se encontram preparados para lidar com esta questão, daí os políticos “atirarem” a responsabilidade, uma vez mais, para o eleitorado, e este ainda não perceber bem o que está em causa e qual a dimensão do problema no dia de votar.
A segunda conclusão, é a hipocrisia que existe e muito na nossa sociedade. Só paramos de assobiar para o lado, quando o problema nos bate à porta, esperando que isso nunca nos aconteça. Esta consciencialização individual de que temos de fazer alguma coisa para alterar a lei é talvez o maior problema a combater . É um problema das mulheres … pensam alguns homens… Elas que o “resolvam!”; É um problema de mentalidade, onde está subjacente a desigualdade entre sexos. É um problema de saúde pública que é necessário erradicar da clandestinidade e desenvolver e aprofundar a ideia de uma maternidade e paternidade consciente, planeada o mais possível e, portanto, desejada.
Este escrito não é um editorial a favor nem contra a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, é simplesmente um texto para despertar consciências, e antes de se refugiarem num NÃO ou num SIM, debatam ideias em consciência, coloquem-se dos dois lados da questão e por fim... vão votar no próximo dia 11 de Fevereiro, conscientes que o fizeram com o sentido de responsabilidade que vos foi pedido para o fazerem.
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